Na segunda feira pela manhã, ao acordar e abrir os olhos,
apressadamente procurei o relógio desesperadamente. Afinal, quase todas
as manhãs eu perco a hora. Isso porque todas as noites o sono demora por
vir e acabo ficando horas acordado, noite adentro, rolando de um lado
para o outro. Subitamente me levanto e corro ao banheiro para que a água
fria, de uma manhã fria de outono, típica de São Paulo, beije o meu o
rosto e com sua frieza me desperte completamente. Escovando os dentes
uma leve intuição toca meus pensamentos e me faz perceber que esta manhã
seria diferente de todas as outras, que algo me causaria uma surpresa. É
como se o tempo quisesse me dizer algo que não tenho como explicar.
Logo, continuo me lavando e enxaguando meu rosto deixo que a água
deslize pelo meu rosto para sentir a realidade chegando com o frescor da
água. Nessa hora, a ficha cai todos os dias e eu percebo que a
realidade do trabalho bate todos os dias em minha porta, convidando-me a
assumir minhas responsabilidades. Fico envolto em meu pensamento
egoísta, pensando o quanto seria bom se não tivesse de acordar cedo para
trabalhar.
De repente, toca a campainha com seu som estridente e
duradouro, que mais parece um grito de uma pessoa desesperada, quebrando
meu diálogo com meu pensamento. Meio sonolento e ainda me despertando,
saio correndo e me enxugo depressa. Pensei ser algo muito grave, afinal,
em São Paulo as pessoas não tem o costume de ficar indo na casa das
pessoas, ainda mais pela manhã. Caminho para a porta e destranco a
fechadura, para poder abrir a porta. Esse ritual, cotidiano e habitual
de todos os dias, parece ser algo normal. Mas, para mim, tudo na vida é
envolto por rituais. Até o simples fato de se levantar, lavar o rosto e
abrir uma porta é ritual cotidiano que tem seu significado. Parece até
mania de uma pessoa com transtornos obsessivos compulsivos. Mas nesse
dia, tudo isso mudou.
Ao abrir a porta, percebi um homem caído na
soleira, estirado na porta de minha casa. Nunca me deparei com algo
parecido. Naquela manhã a vida preparou-me uma surpresa desagradável.
Levantei a cabeça e lancei um olhar em torno de minha casa, procurando
quem tocou a campainha para entregar-me tão inoportuna surpresa e me
causar sentimentos ignóbeis. Olhando, constato que não há ninguém mais
no corredor que se encontra em minha casa. Corredor este característico
dos velhos cortiços e ruas pequenas de São Paulo, iguais àqueles que
encontramos em bairros como o Tatuapé, Brás e Mooca.
Então,
instintivamente, abaixo-me e toco o homem com os dedos para ver em que
situação encontra-se aquele corpo jogado em minha porta. Sinto que seu
corpo está frio e rígido. Aparência de seu rosto está pálida, igual de
uma pessoa anêmica, sem nenhum tipo de reação aos meus estímulos.
Percebo, então, que é um cadáver. Imediatamente corro para o telefone e
disco para a central telefônica da polícia, avisando sobre o ocorrido.
Em
pouco tempo a polícia aparece em minha casa e com inúmeras perguntas,
me investiga, para saber se conheço ou se tenho familiaridades com o
dito cujo jogado em minha porta. Depois de intermináveis perguntas,
atrevo-me a perguntar ao policial sobre quando iam tirar aquele presente
de grego de minha porta. O policial disse que logo iriam retirar aquele
infeliz, que teve o infortúnio de ter sua vida tirada naquele dia
infortúnio. Logo depois soube, que o rapaz morto era um senhor que havia
fugido de um home enlouquecido de ciúmes de sua esposa. E que o mesmo
havia tido relações amorosas com uma mulher casada. O esposo da mulher,
tomado pelo sentimento de ciúmes tirou a vida da mulher e deste homem,
que tive o desprazer de conhecê-lo morto na porta de minha casa. Nesse
instante, percebi o quanto a vida é curta e como devemos ser
responsáveis por ela. Pois, qualquer deslize, pode significar o fim
dela. Logo pensei, esse infeliz mudou minha vida. Se não fosse ele,
minhas manhãs seriam sempre iguais afundadas na mesmice do cotidiano.
Este texto é parte do curso Práticas de Leitura - Leitura e Escrita
em Contexto Digital, compondo parte da nota do curso. Autor: JÚLIO CESAR DIAS. Em 25/04/20112.
O PREÇO DA VIDA
Todos os dias Roberto cumpria o seu dever. Era um dever oculto, bem
discreto, mas muito importante. Ele pilotava um carrinho cilíndrico,
vermelho, com rodas de borracha, por aquele bairro tão distante de onde
morava. Fazia parte do contrato empurrar aquele "carro" que para ele
valia muito, pois dele saía o sustento de sua família.
O carrinho era acionado por força muscular e muito, mas muito suor,
principalmente nos dias de verão. Ia com orgulho pelas ruas daquele
bairro que já há muito conhecia; sabia o nome de todas elas, inclusive o
de seus moradores, e ia fatigado, mas feliz: "- oi seu Antônio, como o
senhor está hoje?" , "- olá dona Marieta, sua filha melhorou?"... e
assim era Roberto, homem simples, comunicativo e alegre.
Em uma manhã as coisas pareciam caminhar normalmente, mas
infelizmente não foi bem assim; um carro bateu em outro carro e
atropelou seu Rob, como era carinhosamente chamado pelos moradores.
Lata amassada, rodas de borracha destruídas, sucedeu-se um grande
congestionamento de trânsito, balbúrdia, confusão enorme. No dia em que
ele se foi naquele bairro, acidente de trabalho, é que se percebeu
quanta falta ele faria.
O jornal mostra seu carrinho tombado na calçada, na primeira página, a
notícia do transtorno que ele causou por morrer naquela manhã,
tumultuando o trânsito.
Horas depois, passou pelo local outro varredor, com escovão e água limpando a rua.
Pobre do seu Rob, para muitos que leram o jornal era apenas mais um
que se foi aumentando a estatística de mais uma morte em trânsito, mais
uma fatalidade do destino.
Assim se teve por encerrada a história de seu Roberto, um homem igual
a tantos, que pagou com a vida o seu direito de trabalhador.
Texto referente ao Curso Leitura e Escrita em Contexto Digital
Autora Aparecida Alvim
Boa Educação
O relógio tocou e sem demora
me levantei. Queria estar cedo no escritório, pois tinha uma importante
reunião e não gosto de deixar ninguém esperando.
Já
estava no banho quando a campainha tocou pela primeira vez. É incrível
que alguém possa ser capaz de tamanha indelicadeza, será que essa pessoa
não percebe que esse não é momento para visitas? Contrariada fui abrir
porta. Minhas pernas ainda estavam molhadas e não pude enxugá-las, pois a
campainha soava sem parar. Em minha cabeça vieram muitas palavras –
mas preferi esquecê-las em nome da boa educação que recebi de minha mãe.
Abri a porta violentamente para demonstrar meu desagrado. Meu corpo se
arrepiou diante do que vi. Aos meus pés um homem morto, o corredor do
prédio longo e vazio, as portas vizinhas fechadas.
Imediatamente entrei e tranquei minha porta. Só podia ser um engano.
Alguém devia ter deixado aquele corpo a minha porta por engano - e
mamãe sempre me disse para não mexer no que é dos outros.
Este texto é parte do curso Práticas de Leitura - Leitura e Escrita em Contexto Digital. Autora: CLEUSA APARECIDA CAL CALEFFI. Cursista integrante do grupo 5.
UM CADÁVER EM MINHA PORTA
Em uma manhã chuvosa de domingo, mês de julho, tempo bom
para estar em casa aproveitando o merecido descanso da semana, quando
inesperadamente algo faz com que eu desperte do sono tranquilo até aquele
momento. Ao abrir os olhos levo as mãos ao relógio na cabeceira e vejo que
ainda é muito cedo, mas levanto, ainda que meio confuso pela maneira do meu
despertar. Sem entender ainda o porquê desse despertar fora do comum num dia de
domingo, vou ao banheiro, escovo os dentes e lavo meu rosto como situações
corriqueiras da minha vida.
De repente, ouço um barulho que no primeiro momento não
identifico como a campainha da porta, será que estou sonhando?
Nesse momento, enxugo meu rosto rapidamente e com passos
largos vou me encaminhando até a porta. Ao abrir a porta me deparo com um homem
caído na soleira. Minha reação é olhar tudo o que está em volta, mas sem
conseguir visualizar nenhum movimento ou sombra ao redor.
Volto à atenção para aquele homem deitado, percebo ao tocar
aquele corpo estático que pelas suas condições já está sem vida.
Naquele instante, mesmo que por alguns segundos relembro a
maneira que acordei naquela manhã chuvosa de domingo, mas imediatamente corro
ao telefone e disco para a polícia.
Este texto é parte do curso Práticas de Leitura - Leitura e Escrita em Contexto Digital. Autor: FERNANDO FERNANDES.